A fuga de Carla Zambelli do Brasil após sua condenação no Supremo Tribunal Federal tem gerado grande repercussão e acendeu uma discussão nacional sobre a eficácia das punições aplicadas a políticos envolvidos em crimes graves. A deputada federal do PL de São Paulo foi condenada a 10 anos de prisão por participação na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça, mas deixou o país rumo à Argentina antes que qualquer medida restritiva fosse executada. A ausência de controle migratório na fronteira facilitou sua saída sem que houvesse registro formal pela Polícia Federal, gerando críticas e suspeitas sobre uma possível conivência institucional.
A fuga de Carla Zambelli ocorre em um momento crítico da política nacional, no qual diversas figuras públicas são investigadas ou julgadas por ações relacionadas a ataques à democracia e às instituições. A deputada, conhecida por seu apoio ao bolsonarismo, já havia sido alvo de investigações em outros casos e teve seu passaporte apreendido anteriormente. No entanto, o documento foi devolvido antes da condenação, permitindo que deixasse o país sem impedimentos. A atitude da parlamentar fortalece o discurso de que figuras influentes conseguem escapar das consequências legais, enquanto cidadãos comuns enfrentam punições imediatas.
A decisão de Carla Zambelli de deixar o Brasil e pedir licença do mandato ocorre 20 dias após sua condenação pelo STF. Embora a deputada não tenha revelado seu destino final, informações indicam que ela teria partido de Foz do Iguaçu com destino a Buenos Aires e depois para a Europa. Essa movimentação provocou forte reação entre ministros do Supremo, que avaliam que a parlamentar protagonizou uma fuga e que sua prisão preventiva pode ser decretada em breve. Caso isso aconteça, Zambelli também poderá ser incluída na lista de procurados da Interpol, dificultando sua permanência fora do alcance da Justiça brasileira.
A fuga de Carla Zambelli levanta ainda um ponto sensível sobre a cassação de seu mandato. Condenada por crime grave, a deputada está sob risco de perder o cargo e, com isso, seus direitos políticos. Mesmo que os recursos legais ainda possam ser apresentados, o processo de cassação deve avançar rapidamente no Congresso Nacional, especialmente diante da pressão popular e da imagem negativa gerada pela evasão do país. A inelegibilidade também é uma consequência direta da condenação, independentemente de trânsito em julgado, e pode afastar Zambelli da vida política por até 18 anos.
É importante destacar que a fuga de Carla Zambelli está sendo analisada como uma afronta ao STF e ao sistema judicial brasileiro. A percepção de que um membro do Congresso pode simplesmente abandonar o país após uma condenação reforça a sensação de descrédito nas instituições e alimenta o sentimento de impunidade. O episódio pode ter consequências diretas sobre o entendimento do Supremo quanto à necessidade de endurecer medidas preventivas, como retenção de passaportes ou prisão preventiva imediata após condenações em segunda instância.
A defesa de Carla Zambelli também sofreu um revés. Após a revelação de sua saída do Brasil, seu advogado renunciou ao caso, indicando um possível rompimento com a linha de defesa inicialmente traçada. A renúncia pode dificultar ainda mais sua situação judicial, já que a parlamentar estará distante fisicamente das audiências e sem uma equipe jurídica consolidada para acompanhar os recursos. A ausência de cooperação por parte da deputada pode levar à aceleração das medidas cautelares e processuais contra ela, inclusive com implicações internacionais.
A fuga de Carla Zambelli também terá impacto direto no cenário político e eleitoral. O PL, partido ao qual a deputada é filiada, deve ser pressionado a se posicionar institucionalmente, seja em defesa ou em condenação da atitude da parlamentar. A legenda poderá ser responsabilizada politicamente por manter uma figura envolvida em escândalos dentro de seus quadros. A crise interna pode gerar desgaste à imagem do partido, especialmente no momento em que novas alianças e coligações estão sendo costuradas para as eleições municipais e gerais.
Por fim, o caso da fuga de Carla Zambelli evidencia mais uma vez a urgência de reformas que impeçam que políticos condenados escapem da Justiça. O fortalecimento do controle migratório, a revisão das prerrogativas parlamentares e a celeridade na cassação de mandatos são temas que devem retornar ao debate público. Enquanto a Justiça brasileira busca lidar com os efeitos dessa fuga, a sociedade aguarda por respostas firmes que sinalizem o fim da sensação de impunidade para os poderosos que violam a lei.
Autor: Idapha Sevel